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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

MÚMIA


Adiei tantas decisões na espera calma e tranqüila de que as coisas iriam tomar caminho sem mim. Ilusão que eu já entendia na minha frente, mas tapava com um lindo pano branco. Fantasiava meus medos achando que eram belas fantasias e no fundo eram fantasmas a me assombrar. Todo dia a acordar pensando que... “ah deixa, amanhã eu resolvo isso”. E foram muitas manhãs de amanhãs que permaneceram intactas, imóveis. E eu a me arrastar feito lagartixa sem perna no jardim. Cada passo um esforço de me tirar o brilho. Não quero me mover. Permaneci assim feito múmia. Embalsamava meu corpo deixando que o ambiente fizesse o resto por mim.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

DOS MEUS VAZIOS E ESCONDERIJOS

Vi espaços vazios e papéis em branco amassados ao lado da cabeceira. Olhei ao redor e o silêncio imperava não só em meu espírito, mas no que me cerca e me prende. Os ruídos da goteira do ar condicionado que a mais de um mês está para ser concertado é o único tipo de barulho que ouço quando vou me deitar. Pensamento? Já nem sei o que são há tempos, pois me deito tão embebedada de cansaço que se quer me dou o direito de alguns minutos de devaneio antes do repouso noturno. E fujo mais uma vez. Deixo o silêncio. Trago a dúvida alada. Vários apêndices em mim que insistem em ficar fora. De fora. Para fora. Dentro? Só o vazio do ar que me falta e do qual sempre me contento. Não busco mais. Não busco nada. E me escondo mais uma vez.


Foto: Gaena da Sylva