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sábado, 31 de julho de 2010

FACE SEM ROSTO



Sabe quando você não consegue nem falar sobre?
Como se falar tornasse aquilo mais real do que já é...
E você ainda não sabe que forma esse real pode tomar e tem tanto medo.
Medo que te aprisiona no nada.
Numa face sem rosto.

SEM EXCEÇÕES




Ouço uma voz:
- E se for diferente?


E uma segunda voz me diz:
- Não com você. Você nunca foi dada a exceções.

DA TUA IMAGEM [2]


Sabe quando a gente descobre uma coisa da pessoa e a imagem dela se despedaça na nossa frente e não cria outra forma?
Você se esfacelou bem na minha frente. E eu preciso de espaço pra recompor algo novo.
Não sei qual lugar você vai passar a ocupar na minha cabeceira.






"Mesmo assim eu não esquecia dele. Em parte porque seria impossível esquecê-lo, em parte também, principalmente, porque não desejava isso.
É verdade, eu o amava."
(Caio Fernando Abreu)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

DA TUA IMAGEM


A cena fica se repetindo na minha cabeça como um filme. E eu não quero te ver, por enquanto. Porque aí que ela vai maximizar bem na minha frente. Eu vou olhar pra você e lembrar. E eu não quero olhar pra você através dessa lente embaçada que diz mais de você do que você me diz. Eu quero ver o que você me mostra, mesmo já sabendo o que você me esconde.






"Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro."
(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

QUANDO ME ATREVI A TE AMAR


Eu não sei dizer. Mas é um vazio. Uma sensação de que falta. Esse nó na garganta e um enjôo terrível. Vontade de te ter do lado não menos que pra sempre. De ligar pra saber como você tá e ficar em silêncio só ouvindo sua respiração. Acho que eu to ficando maluca sei lá. E quando eu estou com você tua presença me sufoca. É como se eu não pudesse falar. Não soubesse as palavras. Quando a amizade vai se transformando em amor a gente vai perdendo a espontaneidade. É preciso reconstruir a intimidade antes já feita.





"Portanto, diga: quero hoje estragar nossa amizade (...).
Estrague fundo, o amor pode estar recolhido nela. (...)
Eu não vou ficar esperando alguém me salvar.
Eu mesmo me salvo.
Eu mesmo me arrumo para a loucura."
(Fernando Carpinejar)

RAPTO












Eu não sei o que você fez comigo. Mas me devolve pra mim.

ENCAIXE


Sabe quando as mãos se encaixam?!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

QUANDO É PRECISO ENTREGA


Somos o encontro de dois corações aos pedaços necessitando de cura sem saber como pedir por ela.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

DE QUANDO NOS ESCONDEMOS

É de aconchego que falo. De um canto pra recostar a cabeça sem medo de mostrar que eu preciso. Eu não queria ter medo de dizer que preciso de você. Mas essa coisa de precisar me faz me sentir tão frágil. Tão em pedaços. Tão cheia de buracos. Eu sempre escondi todas as minhas fraquezas e eu queria de verdade mostrá-las pra você, se você quiser. Mas entende? você tem que querer também. Enquanto eu não sentir que você também quer é como se a parte minha que te quer ficasse brecada nesse muro. Nesse muro que não me deixa ver além do que as coisas que estão expostas no varal. E tem tão pouco. Mas o que tem no varal também esconde o que está atrás dele. Então talvez seja hora de tirar o varal, quebrar o muro e me deixar chegar até aí. Chega de brigarmos pra decidir quem é dono do muro e quem tem o direito de quebrá-lo. Eu quero invadir seu mundo. Eu quero que você faça parte do meu mundo. Eu não quero mais brincar de tiro ao alvo. De uns tempos pra cá tenho sentido que o alvo é sempre eu. Ás vezes também me sinto o tiro que invade e bate contra o muro. Tiro que erra o alvo. Mas quase nunca me sinto como aquele por trás do tiro. Aquele que aperta o gatilho. Eu queria dominar o jogo de vez em quando. Mas eu perdi o controle sobre mim quando te descobri parte do que sou.

terça-feira, 20 de julho de 2010

I CAN´T TAKE MY EYES OFF YOU


Ela gostava de olhar pra ele, quando ele não estava olhando pra ela. Ela gostava de vê-lo distraído. Ela gostava dele solto, daquele tipo de tesouro que a gente deixa livre e fica de longe admirando. Ele é do tipo bom de se olhar.

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Fiquei olhando pra você o dia todo com sorriso no rosto. Queria que fosse sempre assim. Nessa paz. Tempo bom.
Você sorria de um jeito diferente. Daquele tipo de sorriso secreto. Mas era tão secreto que nem você entendia. Era só meu.

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E eu não conseguia parar de te olhar. Ver cada movimento seu. De como pisca os olhos. Vira o rosto. Franze a testa. Desse olhar compenetrado. E daquele sorriso pronto pra abrir. Fiquei te olhando e eu não queria mais nada então.

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domingo, 18 de julho de 2010

DOS NOSSOS MEDOS E FERIDAS


Eu pensei que ainda fosse de manhã. Mas já era noite e você havia partido deixando apenas lembranças e marcas cravadas em mim. Mas ainda assim parecia dia. O mundo irradiava uma luz de novos tempos. Tempos bons. Mas andava tudo tão estranho. As coisas pareciam fora do lugar, sei lá. Não dava nem para saber ao certo o que dizer. Estávamos ali fazendo nossos respectivos papéis que nos pareciam tão gastos e incoerentes. E não conseguíamos respeitar o script, muito menos transgredi-lo a maneira que nós desejávamos. Fomos embora e ficamos separados por uma parede fina que durante a noite ouvíamos a respiração um do outro. Respiração essa que fazia pulsar as batidas de nossos corações em sintonia. Então em que corpo me tomo? Ganhei outras estruturas e novas formas dentro de mim. Sou outra e esse estranhamento me detém de tanto. Eu já não sei. Você também não, talvez! Eu vejo sua dúvida, mas ela ainda é tamponada com a casca da ferida de uma dor fresca que ainda exala pus. Eu tenho medo de que seja contagioso. Tenho medo que tuas feridas revelem as minhas. Tenho medo de novas feridas. Tenho medo de tanta coisa e isso é só mais uma de todas elas. Ontem? Hoje? Não foi nada e mesmo assim foi tudo. Foi quase experiência de como seria se assim fosse. Se colocássemos nossa cara a tapa e fazer valer. Mas tuas feridas ainda estão doloridas demais e eu não quero ser somente aquela que trata das feridas. Eu quero mais. E eu não consigo tratar das suas feridas porque toda vez que você fala dela é uma agressão a mim. E toda vez que ouço e percebo que você ainda gosta dela me faz ter mais medo. Eu prefiro não ouvir. Prefiro não saber. Essa parte egoísta de mim me impede de ser mais tua. E eu não sei como deixá-la de lado. Tenho me esforçado, mas nunca é o bastante. Aquela velha história das medidas que eu não sei. O muito parece pouco e o pouco parece nada. Talvez no fundo eu não queira só te salvar, mas também ser salva. E alguma coisa ainda me faz sentir que você não está pronto pra tudo isso.




"Eu vou ficar calada, um tempo enorme só olhando você sem dizer nada, só olhando e pensando, meu Deus, mas como você me dói de vez em quando."

Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Versos Fragmentados



“Não quero deixar passar tudo de novo. Como pode ser? Como é possível que não fiz nada? Há vinte e cinco anos que me pergunto e há vinte e cinco anos que respondo a mim mesmo: foi outra vida, já passou. Não pergunte, não pense. Não foi outra vida, foi esta. É esta. Agora que entendi tudo, como se faz para viver uma vida vazia? Como se faz para viver uma vida cheia de “nada”?”

Fala de Benjamin Espósito no filme "O segredo de seus olhos"

terça-feira, 6 de julho de 2010

DESSA MINHA FALTA


Sou esse ser vazado a procura de rolhas que tamponem meus buracos. Mas encontrar a medida exata pros meus vazios tem sido uma busca árdua e cheia de nadas. Ora a rolha é frouxa, ora é apertada. E fico assim sem querer o que me deixa solta e o que me sufoca. Porque dos dois jeitos me falta ar, me falta essa coisa que eu não sei o nome. Me falta sempre e parece não haver nada que preencha essa falta de não ter. Esse lugar que me posiciono parecendo sempre estar em desvantagem, mesmo que passe o ar de ter toda a vantagem do mundo. Me faltam pernas, braços, mais corpo, mais olhos, mais ouvidos, mais coração. Me faltam mais vidas pra não temer de viver essa vida aqui. Me falta voz. Me falta silêncio. Me falta ar. Meu suspiro é sufoco de não entender nada mesmo tendo todas as respostas que preciso agora.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

DA MINHA SEGURANÇA INSEGURA


Ás vezes pareço não querer ouvir o que mais quero ouvir. Quando soa claro aos meus ouvido me recuso e desvio. Mais fácil lidar com a fantasia do que com o real bem diante de mim. Então estremeço e enrijeço. Fico sã e louca ao mesmo tempo. Numa espécie de vertigem em que me passam filminhos breves do que poderia ser a cada resposta que poderia dar. E daria se não achasse mais cômodo e viável à minha inabalável segurança de ficar em silêncio. Num breve sorriso tímido petrifico. Gélida e sem ar sufoco em desejo reprimido. Em fala que se cala em calos dolorosos.
Não me fale em ser, porque de alguma forma estou sendo. No futuro, mas sempre presentificado no desejo de o ser. Mas quem nunca teve desses momentos que nos imobilizam? O que eu digo nunca é o que realmente quero dizer, mas de alguma forma os digo. O que quero dizer com isso? Me ajude?! Faça o trabalho duro por mim. Faça todo o resto do caminho por mim. Porque se eu tiver que fazer e voltar de mãos vazias eu não sei se conseguirei voltar inteira. Eu não sei perder. Ficar em desvantagem. A segurança do estático me é extremamente confortável. Fico aqui então fingindo que nada disso me afeta. Ruminando pensamentos premeditadamente calculados. Como se tivesse algum tipo de controle sobre tudo isso que me acontece. E de alguma forma tenho mesmo, só que não todo o controle. E esse faxo que me escapa é justamente aquele que vivo a perseguir e me faz me perder de todo o resto.

sábado, 3 de julho de 2010

DESSE MEU NADA


Desse nada
Desse vazio
E fico tentando me perguntar o que eu quero
Parece que nada pode preencher esse nada que me habita.
Queria então poder parar o tempo pra ele me acompanhar.
Queria apertar stop em todas as coisas pra assim torná-las compatíveis a mim
Eu queria as coisas bem do meu jeito
Bem na minha hora
Esse meu relógio que insiste em mostrar os ponteiros sempre na mesma posição
A ampulheta do meu tempo entupiu
E eu só queria não ter que encarar isso tudo ao meu redor.
Queria ir pra longe onde ninguém me conheça e talvez recomeçar.
Ou talvez partir desse ponto em que me encontro
Continuar só que em outras ruas... outras estradas.
Isso tudo aqui já deu pra mim.