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domingo, 29 de agosto de 2010

DAS PALAVRAS QUE ESCREVO


Tô repetindo pra ver se o sentimento vai embora com as palavras. Escrevo o sentimento pra arrancar ele de mim. Raiva. Adeus. Rancor. Medo. Adeus. Lágrima. Desconfiança. Adeus. Ai Deus! Tem palavra que ainda não consigo escrever não. Tá difícil de arrancar daqui do peito, sabe?! Tem palavra que ainda tenho que inventar. Mas também num quero inventar ainda não. Tem coisa que ainda quero que fique. O nome dele eu não digo não. No dia que eu disser é porque já foi. O nome dele eu não escrevo não. E repito que não faço pra não fazer. Não quero dizer cedo demais. E vou escrever pouco que é pra não escrever palavra que não quero que saia de mim.







"Toda vez que te matava em cada palavra semeada, também aos poucos e a cada vez morria em mim algo que eu já não sabia o que era."

(A última palavra - Carlos Eduardo Leal)

DA ADOLESCENTE DE 15 ANOS EM MIM

Me sinto tal qual aquela adolescente de 15 anos que descobriu o que é estar apaixonada. E toda vez que ela toma conta de mim eu faço ela se afastar. As recordações que ela me traz é de um tempo que eu era melancólica. Em alguns anos seguintes a cena ensaiava se repetir, mas uma parte de mim mais madura e racional quer a adolescente longe. Acho que esse é o momento que eu deixei a adolescente de 15 anos em mim enaltecer mais. A história com traços semelhantes se repetem. Mas ainda assim, a minha racionalidade fria me impede de fazer com que as duas em mim coexistam. Elas estão aqui, mas meu lado racional tende a prevalecer. Eu queria um pouco mais da loucura e passionalidade daquela garota de 15 anos. Que sente, que fala, que se mostra.





"Essa mesma garotinha mal resolvida que vaga dentro de mim, como um espírito que não aceita evoluir, é a garotinha que quis se curar do medo do amor com um amor tão grande, tão grande, tão grande, que não existe. E ficou sem nenhum."

(Tati Bernardi)

sábado, 28 de agosto de 2010

QUANDO FALAM MINHA FALA




As coisas que escrevo quando faladas soam tão ridículas. Ainda mais quando proferidas pela boca de outrem. É estranho ver outra pessoa dar o sentimento que quiser as tuas palavras. Como se roubasse nossos sentidos. Sei lá, fica ridiculamente mais leve e insano.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

DE DEGRAUS E ESCADA


Eu olhei pra escada. Pra cada degrau. Pra cada pegada que teria que dar pra subir e pensei: se você subir comigo eu não tenho medo. Mas você largou minha mão. Eu não subi e nem voltei. To ainda olhando pra escada. Não sei se espero que você volte pra subir comigo. Ou se tenho medo de seguir sozinha. Seja pra subir seja pra voltar. O problema é que eu to tentando me fazer dar conta que já to nessa espera sozinha. E quem disse que subir ou voltar só é mais difícil que esperar. Eu tenho é que aprender a me levar pra onde vou e fazer companhia de mim.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

DA NOSSA HISTÓRIA


Queria escrever coisas boas sobre nós. Mas tudo em nossa história soa trágico e melancólico. Com um gosto de lágrima que escorre na boca e a gente passa a língua devagar pra secar. Bebe a própria lágrima. A dor tem esse gosto salgado mesmo. Igual água do mar. Morrer de sofrimento deve ser uma espécie de morte por afogamento. Afogamos em nossas angústias.





"Sim, afligia muito querer e não ter. Ou não querer e ter. Ou não querer e não ter. Ou querer e ter. Ou qualquer outra dessas combinações entre os quereres e os teres de cada um, afligia tanto."

(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

DO MEU CANSAÇO


Cansei... E talvez eu não tenha me cansado de você. Mas definitivamente eu me cansei de nós dois. Confesso que em parte fugir disso tudo é mais fácil. Mais uma vez sou eu fugindo de relacionamentos e de tudo aquilo que faz eu me expor. No entanto isso também te favorece. Compartilhamos os mesmos medos e por fim os garantimos quando jogamos a culpa um no outro. E insistimos em dizer que somos sozinhos.







“Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas as coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?"

(Caio Fernando Abreu)

domingo, 22 de agosto de 2010

PESTE


Eu não consigo mais lidar com nossa frágil relação. Deixar meus sentimentos numa gangorra não é a espécie de brincadeira que mais curto. Quando eu pareço tentar trazer as coisas pra direção certa, você vem e desanda com tudo. Eu sou de carne, do tipo que tem muito sangue que corre e que sangra. As coisas ainda estão vivas aqui. Então, porque você insiste em ser a bactéria mais danosa que alimenta a pior peste em mim?

DESSAS CIRCUNSTÂNCIAS QUE TEM NOS DOMINADO


É como se não fosse nada. Não fosse eu. Não fosse você. Fossem talvez essas circunstâncias da vida. Essas coisas que nos escapa. Talvez fosse esse entre. Talvez nada. Talvez a gente nem chegue a saber de onde começou e onde isso tudo quer chegar. Mas até quando a gente vai deixar todas essas circunstâncias vazias dominarem nossa história?

sábado, 21 de agosto de 2010

DESSES NOSSOS SILÊNCIOS


Voltamos então a esse ponto vazio de sentimentos equilibrados que quando um pende para um lado o outro pende no sentido contrário. Em contenção. Aprisionamos nossos sentidos. E entre sorrisos abobados fingimos nunca termos trocado de pele. Porque uma parte tua me cabe e uma parte minha pertence a você. É isso que nosso silêncio tenta esconder e acaba gritando pelos nossos olhos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

DO VENTO QUE PASSA


O que foi esse vento quente que passou leve no meu rosto?
Como um beijo...
Pensei em você.
Deixei então que o beijo fosse teu.
Quase cheguei a virar o rosto e por pouco o vento não tocou meus lábios.

domingo, 15 de agosto de 2010

QUANDO PERCO O AR E ME SINTO VIVA



Eu quero beijar teus lábios. Enquanto arranco tua pele bem levemente. Você puxa meu cabelo e me joga bruscamente contra a parede. Emito um susurro de dor-prazer. Arranhões. Línguas. Mãos. Beijos. Susurros. Gemidos. Amassos. Agarros. A gente se enrosca. Você me puxa pra perto. Olha nos meus olhos. Eu languida de prazer olho seus lábios. Você sorri daquele jeito de canto de boca. Me arrepio. Avanço. Te alastro e me adentro em você. Nos despimos de nossas vestes de pudores. Sem medo. Perdemos o ar. Nos enchemos de vida. Paramos de respirar e mesmo assim é como se nunca tivéssemos nos sentido mais vivos. Deitados no chão com sorriso abobado na cara olhamos para o teto. Rimos. Rimos muito.

domingo, 8 de agosto de 2010

DO MEU SILÊNCIO





- Por que você não conversa comigo?

- Porque eu não consigo mentir pra você da mesma forma que eu consigo mentir pra mim mesma.

sábado, 7 de agosto de 2010

DA MINHA SEGURANÇA INSEGURA [2]


É essa insegurança que me consome. Essa mesma insegurança que vejo tão segura em você. E é toda a contradição que me faz me manter segura numa insegurança frágil, caindo aos pedaços. Fico me segurando em cordas presas no ar. Fica sempre essa sensação de estar caindo. Eu não sei onde. Mas sinto que não tem nada lá pra me segurar.





"(...) Duvide de minha alegria.
Duvide de minha indiferença.
Estou rindo com o vidro na boca.
Faço o vidro virar dente.
O que mastigo se acostuma.
Mas não é o que sinto."

(Fabrício Carpinejar)


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

MEDO


Sentados lado a lado num banco de uma praça qualquer você me perguntou:

- Por que sumir assim? O que aconteceu?
- Tá tudo estranho você não acha?
- Como assim?

- Sei lá. O céu tá mais azul. O sol nasce sorrindo todos os dias. Os pássaros cantam na minha janela.

- É... (com um riso no rosto)

- Eu não tô acostumada com dias assim.

- Mas, não entendo, foi por isso que você sumiu?

- Quase.

- Quase o que?

- É difícil dizer.

- Se não disser nunca vai se tornar fácil.

- É que... eu tenho medo

- Medo de quê?
- Medo de me acostumar com esses dias. E se algo der errado e os dias voltarem a ser escuros e sem barulho nenhum?





"Medo de se apaixonar Você tem medo de se apaixonar. Medo de sofrer o que não está acostumada. Medo de se conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade. Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo. Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de um olhar insistente.[...]"

(Fabrício Carpinejar)


FIRME NO VENTO


Ela hesitava sempre quando havia mais um. Preferia a garantia de coisa alguma à incerteza do infinito. E se mantinha assim. Firme no vento. E no meio do furacão dizia, convincente, estar tudo bem.




quinta-feira, 5 de agosto de 2010

DESSES TROPEÇOS DA FALA

Foto: Daniel Camacho


Engraçado a gente se ver derrapar em nossas falas e se encontrar nesses tropeços.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

DA MINHA INSANIDADE CONTROLADA


Desse tempo que fiquei sozinha. Calada. Sentindo. Queria escrever e falar sobre. Mas não consigo expressar. Durante esse tempo uma coisa ficou clara pra mim. Até a minha insanidade eu tento controlar. Tem hora e local pra começar e terminar. Eu controlo e planejo meus momentos de surto. Se ao menos a minha loucura fosse verdadeira.





"Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim..."

(Álvaro de Campos)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

DA MINHA ESPERA [3]


Ela não sabia. Ela sentava na cadeira de balanço em frente a janela do seu quarto e ficava olhando pro lado de fora. Os campos verdes cheios de trilhas que o atravessavam. Era um tipo de espera do nada. Ela esperava tímida e ansiosamente como se seu destino fosse invadir sua porta. Ela não era dada a muito esforço e exposição.