
Hoje eu sabia. Não era real. Nunca havia sido. Não sei como me deixei enganar. Não se culpe. Não te culpo. Hoje eu sei que se eu acreditei no que você me disse foi muito mais por mim. Não foi você. Eu queria acreditar.
Como farelo você caia de mim. No meu caminhar me despedaçava. E todo resto meu era muito mais teu. Era tua parte em mim que se desgrudava. Eu nem sentia o quanto ia te deixando pra trás. Era aos poucos. Bem devagar. Mas ia marcando os passos por onde andava. Caso você me chamasse de volta. Eu até cataria os farelos. Juntaria e colaria de volta. Era só você querer. Só você me chamar.

Me pediram pra eu me calar e me ouvir.

Não sei bem ao certo as coisas que me levam até você...
Sem muitas delongas. Sem grandes pedidos. Sem muitos pesares. Digo que abandono o jogo, porque não trato o amor como sorte ou azar. Não vim aqui pra ganhar ou perder. Ter ou não ter. Queria compartilhar com você a minha vida. Mas está sempre de partida. E em nossas partidas sou sempre eu que fico partida. Fico com aquela sensação de jogadora em nocaute. E quando você volta pra mais um de nossos jogos, finjo que dessa vez eu vou ganhar. A única coisa que ganho são migalhas de tempo com você. Não quero ser nem jogadora nem mendiga de amor. Restos? O amor é mais que sobras. Você janta com ela e eu fico com o que sobrou. Isso quando sobra algo dos jantares. Quantas vezes tivemos que desmarcar nossos encontros porque nem sobras você teria pra mim?! Me retiro de campo nem como ganhadora, nem como perdedora. Mas como eu. Com a parte de mim que queria compartilhar com você. A tomo de volta ferida e lascada, mas a se recompor. Tua presença-ausência tem sido mais nociva do que tua falta por completo. Porque não é tua falta que machuca, mas a esperança ilusória de que você é uma parte minha também. Somos cartas de baralho perdidas em outros jogos. Jogos incompletos. O fim nunca é o fim porque a gente termina antes de acabar o segundo tempo. Faltam regras e condições em nossos jogos. E ao invés de discutirmos sobre elas deixamos como está e nos viramos pra seguir a vida até a próxima partida. Então agora imponho algumas regras pro jogo que você quer jogar. Primeiro não tratar nossa relação como um jogo. Segundo nesse (não)jogo eu só jogo de dois, eu-você e mais ninguém. Terceiro nossa partida não tem hora pra acabar, porque aqui não importa ganhar ou perder, mas estarmos juntos de verdade. Coisa que nunca estivemos. Quero um amor sem hora marcada na agenda.
Foi em um janeiro que eles voltaram a se encontrar. Ali sentados naquele café de uma esquina francesa qualquer, puderam praticar suas línguas conterrâneas. Puderam compartilhar causos e acasos de suas vidas. Perguntaram de si como se investigassem suas próprias vidas. Mas nada ali foi intimidador. Parecia que se conheciam ha anos. Conversavam como dois amigos de longa data com uma intimidade e afinidade conquistadas ali, no agora, na relação. Carolina lembrou da passagem que tiveram. A primeira vez que se viram. Pedro disse que se lembra bem. Porque ficou com aquele rosto em sua cabeça durante todo esse tempo que se passou. Também teve vontade de pará-la, mas deixou ir, pois aquele era seu ultimo dia no Brasil e sua vida estava complicada demais pra arranjar mais dores pra sua partida. Carolina assim entendeu porque nunca mais Pedro havia passado naquele lugar durante todos os dias que ela esperou por ele. É claro que ela ainda não falou com ele sobre sua espera. Parecia ainda não ser o momento, a hora certa. Carolina guardava ainda segredos pra si, principalmente aqueles que pudessem deixar aquele encontro com sabor de pesar. Decidiu apenas aproveitar, sentir aquilo como se fosse um ultimo suspiro. Depois do café, andaram pelas ruas conversando e rindo. Olhar para a paisagem era casual, quase um charme da relação. Esqueceram de seus compromissos e o tempo que tinham fora dali, daquele encontro. Dividiram-se trocando partes de si. Já de madrugada, depois de passarem o dia todo juntos apenas conversando, Pedro levou Carolina até seu hotel. Carolina enquanto caminhavam ficava se perguntando se pedia pra ele subir ou não. Quando chegaram, não fez o convite, ele apenas deu o endereço de sua casa e seu telefone. Ela pegou o bilhete dobrado e guardou no bolso, sem trocar seu telefone com ele. Ele ficou apenas com aquele sorriso encantador no rosto esperando retribuição. Não houve e ele não pediu também. Ele sabia onde procurá-la se quizesse. Num abraço apertado se despediram com um beijo leve e demorado no canto dos lábios. Ela subiu até seu quarto no 7º andar e olhando o relógio viu já estar atrasada. Eram 02:37. Seu vôo para o Brasil sairia ás 03:15. Pegou suas malas e chamou um taxi para o aeroporto.
Senti. Menti quando te disse que os sentimentos se esvaem e evaporam feito bolhas de sabão. Porque em mim as coisas fervem. Borbulho sempre num risco de derramar. Mas fica sempre por um triz. Ficamos sempre nesse triz. Nos entre caminhos que nos rodeiam. Quando nos vemos, nossos corpos parecem tremer como se chamassem um pelo corpo do outro. Cada vez mais perto mais sentimos cada célula do nosso corpo se bagunçar, como se nossos corpos buscassem outras formas pra se acoplar. Meu corpo quer fagocitar o seu. Quando nos somos, já somos outros em nós. Tenho procurado ultimamente palavras discretas e em curtas frases te dizer o que meu corpo grita. É como se não precisasse expor em palavras algo que exala de mim em visão, tato, olfato e paladar. Você me alcançar em audição vira mero pretexto.