"Em casa, lia a maior parte do tempo; tentava assim extinguir sob impressões exteriores o que fervilhava constantemente em mim. As únicas impressões exteriores de que dispunha me vinham da leitura. Elas eram para mim um grande conforto, naturalmente: comoviam-me, distraiam-me, atormentavam-me; porém um momento chegava em que ficava muito fatigado. Sentia necessidade de agir: então, de repente, mergulhava na libertinagem, numa sórdida libertinagenzinha hipócrita, subterrânea. Minha irritação contínua tornava minhas paixões ardentes,lancinantes. Meus impulsos apaixonados terminavam em crises de nervos, com lágrimas e convulsões. Fora da leitura eu não tinha nenhuma distração. Nada em torno de mim que pudesse me impor um certo respeito e me atrair para si. Uma angustia vaga me submergia; eu experimentava uma sede histérica de contrastes, de oposições, e então me lançava na devassidão."
(A Propósito da Neve Fundida - Fiodor Dostoiévski)
5 comentários:
Infelizmente,não se vive apenas no mundo dos livros, da imagnação.
Mas, ainda bem que temos esse refúgio para ficar por algumas horas =)
Já tenho saudades de me embrenhar assim nas palavras. *
E como é incrível o mundo da leitura!
bjos!
"Fora da leitura eu não tinha nenhuma distração. Nada em torno de mim que pudesse me impor um certo respeito e me atrair para si."
Me vi nessa parte. Me vejo nas coisas que tu posta aqui. Beijo grande!
Eu ri de "libertinagenzinha". Texto forte, mais grave do que aparenta.
Adorei a imagem a ilustrá-lo.
Beijos ;*
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