Páginas

quinta-feira, 30 de julho de 2009

VERSOS EM RETALHOS

Estou naqueles dias despedaçados. Que cada acontecimento nos parece um insulto do tipo de ato inaceitável. As coisas acumulam tanto comigo que quando uma coisa resolve aparecer vem tudo junto. E eu nem sei mais por que ou por quem são as lágrimas que encharcam meu rosto. Eu tão sentimental não consigo sequer compartilhar a dor que sinto com alguém. Guardo-a toda pra mim. Não consigo não pensar em não pensar. Não consigo não chorar mesmo sem querer chorar. Não consigo não conseguir. Quanta impotência meu Deus! Quanta inconsistência do meu ser. Nem versos profundos consigo escrever. Só esses retalhos mal acabados... Pra que escrevo? Pra que insisto em escrever nesses momentos? Essas palavras vazias só fazem desvalorizar e diminuir o que sinto. Eu que nem sei falar de mim tento falar do que sinto. Batalha inútil que travei com os pontos e vírgulas, conjunções e verbos. Meu vocabulário escasso me impede de aprofundar no borbulhamento de meu ser e na fervura do que sinto. Tudo que escrevi aqui não passam de palavras de gelo em busca de calor, que ando cansada de tentar encontrar.



quarta-feira, 29 de julho de 2009

SOBRE O TEMPO E O QUERER


Precisei de um tempo para recompor pensamentos, aquietar sentimentos, reavivar quereres, afugentar mal dizeres. Precisei de um tempo que não se finda e nem se esgota. É só tempo que se perde. Passa, escoa, não para. O tempo nunca para. Precisei de tempo infinito. Mas até o relógio que os ponteiros pararam, apenas revela a hora errada. A gente vê aquilo que quer ver e por mais errado que possa ser um olhar sonhador vê além do que as dimensões do real nos permite.
Eu sempre vi o mundo coberto por um pano multicolorido. A vida não foi mais que a mistura de diversas cores que harmonizavam o ambiente ao meu gosto. Tudo sempre foi bom. Extraordinário? Não. Apenas bom o suficiente e isso sempre me bastou. E eu sempre queria que o tempo parasse, pois eu sabia que na completude de um querer vinha outro a me invadir e eu sempre quis mais. Parar o tempo era minha maneira de deixar de me perder em meus queres.
Hoje eu tirei o pano multicolorido e vejo que o mundo tem muito mais cores que o meu pano podia colorir. A infinidade me ofusca a ponto de eu já não me contentar mais com nada. Hoje nada é bom o bastante e tudo que tenho não me preenche, não me cabe. A harmonia que sempre encontrei em meu pano multicolorido foi falsa e não passou de uma felicidade suave. Hoje eu sei o que pode ser estupendo, estrondoso e eu quero isso pra mim. E sei que tudo o que consegui pode ser sempre mais e eu quero mais. E já não me satisfaço com nada. Não quero o reles o vil. Quero a beleza do furta cor. Roubar todas as cores pra mim e ser várias em uma. E hoje o meu desejo expandiu a ponto de nem se o tempo parar isso vai me bastar. Já não sei qual é o tempo que eu preciso.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

DA VIOLÊNCIA QUE ME FALTA


Olho pra você e tenho raiva. Vontade de falar tudo que estou sentindo. Vontade de vomitar verdades em você. Cuspir na sua cara. Te bater e ver se assim diminui um pouco a minha dor. E pode ser feito de um jeito troncho. No começo posso até não demonstrar muita habilidade. Mas preciso de alguma forma dar forma as coisas que tenho pensado. E não tenho visto forma mais catártica do que a base de socos e ponta pés. Ando precisando de um pouco de violência em mim.

domingo, 5 de julho de 2009

DO QUE ME PARALISA


Eu não me permito ser eu mesma. Eu não agüento o peso de conseguir as coisas. Eu não suporto o fato de que sou capaz. E se me paraliso é por saber que eu posso ir muito mais além do que imagino, mas algo em mim me diz que eu não devo. Onde quero chegar comigo mesma?

sábado, 4 de julho de 2009

Afetos Fragmentados

Foto: Gaëna da Sylva




"Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos, um filme mais ou menos ,um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia."

[Martha Medeiros]

quinta-feira, 2 de julho de 2009

SONOLÊNCIA


Deitada.
Meu corpo inerte.
Pronta pra dormir.
Mas meus pensamentos mais uma vez, como num estado de delírio
Passeiam por lembranças e não me deixam adormecer.
Incrível o poder da noite de trazer à tona sentimentos tão obscuros e esquecidos durante a maratona do dia.
Vivo os dias a esquecer e as noites para lembrar.