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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

DE ESPERAS



Engraçado que não foi bem assim que me imaginei começando o ano. E de certa forma não está indo de todo mal. Em alguns pequenos prazeres que havia deixado pra trás tenho conseguido trazer pra mim uma certa paz de que tanto necessito. Cabendo no tempo que carrego já me basta. Ás vezes faço do tempo elástico e chega até a caber mais de 24 horas num só dia. Ou pelo menos cabem muitas coisas além do que poderiam ser feitas em apenas 24 horas. E num relógio longe do meu, com ponteiros que marcam o real, a vida continua a seguir, ao som de badaladas que me fazem acordar pra o que me espera. O que me espera? É isso que venho tentando descobrir, pois a maior parte do tempo só abro os olhos pro que espero. E não vendo nada me dou por cega diante de todo o resto. Eu me pergunto se realmente haverá o resto? E será que ele de fato tem que ser o resto em minha vida? O que será que tenho nomeado por restos. Talvez seja a hora de descobrir e ver todas as dimensões para além daquilo que eu vivi. Talvez isso tudo ainda seja uma forma de esperar. Mas fiz também da minha esperança elástico e alarguei as possibilidades. Quero aprender a esperar o que me espera.

DE MEU ESTADO



Toda essa minha dureza é o medo de me desmanchar.


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

DE VELHOS HÁBITOS


Então, ainda tem todos esses teus vestígios em mim que ficam gritando pelos meus poros. Fiquei surda, cega, muda. Ando distraída com toda essa espécie de vida além de mim que meu corpo tem tomado as rédeas. Então eu também sei que te uso como usei outros pra escapar dos meus fantasmas. Transformo você em assombração viva pra manter tudo o que guardo em baixo do tapete. Eu não deixo exposto nem a mim. E qualquer pensamento a respeito, faço sumir da minha mente da maneira como veio. Alguns velhos hábitos são difíceis de serem deixados de lado.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

DO MEU TEMPO


“(...) era o meu jeito de fingir que estava me tratando, talvez, quando estava apenas me atordoando.” (Caio Fernando Abreu)



Nem sei se é mais fácil viver nesse obscuro de mim. Nem se é menos doloroso. Me resguardando em desculpas de pensar em mim e o que tenho mais feito é ficar alheia. Vendo as horas passar. Sento em frente ao relógio de ponteiros da minha sala de estar. Como em transe, atordoada, ou quase imune, talvez, fico a ver os ponteiros a passar. Me fixo no das horas, porque demoram mais a se mexer. Talvez seja a identificação da força do meu movimento. Me movo com a força do ponteiro das horas. Só que trazendo pras proporções da vida, é como se meu movimento fosse ser inerte. Como se todo o resto passasse, fosse, e eu ali a pequenos passos. Fico no lugar das passagens. Recebo bem os milésimos, centésimos, segundos, minutos.... me preencho bem deles até estourar em outra hora e repetir tudo de novo. É só uma questão de tempo.

sábado, 15 de janeiro de 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Versos Fragmentados


"Em alguns momentos fica o equilíbrio terrível de nunca ir. Fica a dor terrível de todo mundo que foi. Fica a ansiedade terrível de todo mundo que tem pra chegar. Mas nenhum desses silêncios chega perto do som que é viver ouvindo o mundo se locomovendo enquanto só tento enxergar de olhos bem abertos sem me mexer. Estar no centro do barulho nunca foi realmente uma solidão. A troca é tão bonita porque sorrio achando todos tão corajosos. E eles sorriem de volta, me achando corajosa também em ficar. Acho tão bonita a sensação de estar no único lugar onde se pode estar com todos. Sei que não escolho nada, não sigo com ninguém, não conheço outras idades e lugares e gastrites e ventos. Eu sou uma estação, é isso. Assim não dói além porque eu sei, desde o começo, que sou passagem. E é sempre movimentado, mesmo quando apagam as luzes e a vida dos outros descansam da minha parada. Existe o movimento que fica atrasado no ar e durmo embalada por tanta coisa que quase parece coragem. Até que hoje, não sei se porque enjoei dessa casa da infância, não sei se porque às vezes o amor é mesmo mais forte que mil anos de segurança. Eu pisei tremendo na escada e, pela primeira vez, ninguém tentou me agarrar porque era como se o mundo dissesse “acho que são onze da manhã e uma hora você precisa ser mulher”. E eu pedi socorro. Eu não sei sair daqui mas quero ir com você. Eu tenho cinco anos de idade mas quero ir com você. Tudo me dói tanto e eu tenho tanto medo mas tudo bem, vamos lá. Na próxima parada só me lembra que é bom eu fazer xixi e comer alguma coisa porque tô te achando tão bonito que talvez eu esqueça."

(Tati Bernardi)