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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

AFETO



Quando o afeto de alguém que você não espera te afeta.
Quando o afeto te afeta e manifesta um algo sem explicação.
Quando o afeto te afeta e te deixa sem uma direção
Quando o afeto te afeta e não te cabe, você transborda
Quando o afeto te afeta e você quer doá-lo a todos a sua volta
Quando você não espera ser afetado
Quando você não espera por afetos
Quando você não está aberto a afetações

Pois é foi nesse instante do quando que eu me encontrava
Meu presente me/se presentificou com afetos afetáveis
Afetaram a todos e não só a mim
E diante de tanto afeto me vem uma sensação muito boa
É tempo de sincronicidade.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-


domingo, 24 de agosto de 2008

Resolvi hoje escrever palavras ao vento. Escrever liberando medos, afetos, emoções. Ando precisando expurgar o mundo que não cabe em mim. Eu já não consigo mais caber em mim mesma. É muita coisa, muito sentimento preso fora do lugar. Quanto mais me conheço mais vejo o quanto não sei de mim e o quanto errei comigo mesma. Não sei como seguir pelo caminho certo, nem sei se há esse tal caminho certo. É tudo vago. Respiro e não reconheço o ar. Sinto falta de um alguém pra eu chamar de meu. Sinto falta de alguém pra caminhar comigo. Meus passos andam sós. Sempre foi difícil pra mim dizer sim a alguém. Estou sempre cheia de defesas, sempre a espera, sempre tão calma, sempre tão cheia de idealizações, sempre tão cheia de todos e sempre tão em falta de alguém.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

sábado, 23 de agosto de 2008

Afetos Fragmentados


"Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados."

(Livro do Desassossego – Fernando Pessoa)

domingo, 17 de agosto de 2008

MEU INTERIOR

Escrevo versos vagabundos com palavras fúteis e vãs pra expressar sentimentos esdrúxulos e vagos. Em cada sujeito que me reconheço parece máscara que me cai muito bem. Cai na primeira mentira que digo. Cada verbo que uso é só esperança de um dia tornar-se ação.
Minha vida anda cheia de pó de tão parada que está. E eu sem vontade de movimentar um móvel pra tirar poeira. Deixa tudo com teia que assim ninguém vem me visitar mesmo... Deixa tudo velho parado onde está que ninguém vai querer mexer ou se aproximar.
Engraçado, né?! E eu reclamando tanto da solidão e nem preparo a casa pra receber visitas... Quem sabe elas voltem mais vezes?!
Eu movimento meu exterior, mas a mim eu não engano... Por dentro anda tudo podre de tão parado de tão velho. Meu mundo é muito escroto que preciso dar cor e vida a ele por fora pra alguém querer falar comigo. Nem eu agüento o marasmo de minha vida. Crio mundos que só eu visitei. Crio histórias que só eu sei de cor. Passo a acreditar em realidades paralelas de tanto recontar e recriar pros outros. Eu tenho uma vida inventada. Assim fica mais fácil de lidar com o fato de não ter história alguma pra se contar. Fujo um pouco da minha realidade. E quem disse que isso é mentira... Se eu pensei, se eu sonhei, quem vai me dizer que não estive lá ou que não aconteceu de verdade? Quantos sonhos nos parece mais real do que nossa própria vida? E quem pode garantir que não foi real? O que é real de fato?
A nossa vida se baseia em nossas percepções e sensações. A gente vê o outro como quer e a si mesmo também. E tem momentos nos quais não dá pra separar o real do imaginário. Os mundos que eu crio eu vivi neles e deles só eu pra dizer o que foi real ou não.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

domingo, 10 de agosto de 2008

CONSTRUÇÃO


Tenho andado des-sentindo
Tenho andado des-pensando
Tenho andado des-fazendo
Tenho andado des-andando
Tenho andado tentando não andar no mesmo passo... no mesmo ritmo...
Buscando novas notas... novo compasso... nova melodia
Tenho andado buscando novas maneiras de andar
Tenho... tenho... não como obrigação
Não como algo imposto
Apenas venho buscando me permitir ser
Ser de todas as maneiras possíveis
E no meio disso tudo venho tentando firmar-me
Me auto afirmar perante os demais
Porém me dando a oportunidade de não ser um ser congelado e frio
Um ser que não se permite modelar com os choques da vida
Estou aqui pra ser quebrada e colar os cacos
Quem sabe algo novo e bom vem aí?
Cansei de esconder as feridas
Cansei de sempre estar com tinta fresca e cheia de não me toques
Cansei das constantes reformas mantendo os outros distantes
Entre aí
Venha ver a nova construção
Pode ser que demore a ficar pronta
Pode ser que nem chegue a ficar pronta
Mas se quiser pode fazer parte dela
Coloque seu tijolo também
Cansei de viver rodeada de arame farpado.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

QUANDO ACABA


Onde foi que você deixou seu brilho?
Onde foi que ficaram tuas palavras doces?
Cadê aquele teu sorriso sem graça?
Cadê aquele homem por quem eu me apaixonei?

Pra onde foram as juras de amor?
Pra onde foram promessas de um futuro juntos?
Cadê aquele sussurro bom no meu ouvido?
Cadê aquele abraço que me sufoca de prazer?

Onde foi que meu entusiasmo por você se perdeu?
Onde foi que ficaram minhas conversas em tons de romance?
Cadê o brilho nos meus olhos?
Cadê a mulher por quem eu fiz você se apaixonar?

Pra onde foram minhas saudades de você depois de um dia longe um do outro?
Pra onde foram minhas vontades de fazer algo por você?
Cadê minha mão segurando a tua?
Cadê meu corpo procurando o teu?

Eu não tenho respostas pras mudanças que a vida traz
Você não tem respostas pras escolhas que você fez
Eu já não sei o que sinto por você
Você já não sabe o que sente por mim
Eu não quero me sentir obrigada a lhe doar sentimentos
Você não quer obrigar-se por mim
O nosso amor se transformou em obrigação de favores
E desde quando amor se faz favor e obrigação?
Façamos favores individuais então
Reconheçamos que acabou
Sem muitas cerimônias
Amei! Foi bom! Adeus!

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Afetos Fragmentados


"É meu este poema ou é de outra?
Sou eu esta mulher que anda comigo
E renova a minha fala e ao meu ouvido
Se não fala de AMOR, logo se cala?
Sou eu que a mim mesma me persigo
Ou é a MULHER e a ROSA escondidas
(Para que seja eterno o meu castigo)
Lançam vozes na noite tão ouvidas?
Não sei.
De quase tudo não sei nada.
O anjo que impulsiona o meu poema
Não sabe da minha vida descuidada.
A mulher não sou eu. E perturbada
A rosa em seu destino, eu a persigo
Em direção aos reinos que inventei."

(Hilda Hilst)

domingo, 3 de agosto de 2008


Eu gosto do avesso
Eu gosto do quebrado
Eu gosto é de confusão

Eu gosto do amargo
Eu gosto do errado
Eu gosto é de explosão

Eu gosto do impróprio
Eu gosto do insano
Eu gosto é de rebelião

Eu gosto do incerto
Eu gosto do perverso
Eu gosto é de provocação

Eu gosto do antigo
Eu gosto do punido
Eu gosto é de inadequação

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-