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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

SOBRE ARMÁRIOS E SI MESMO


A procura de nós mesmo acabamos por encontrar um ser desconhecido. Tão oculto de nós mesmos que fica difícil acreditar que somos o que não somos. Pois é... esse mistério da existência humana. Ninguém sabe por completo de si ou mesmo não se quer saber. Deixa-se tudo guardado em gavetas por arrumar. Junta-se pó e traças e recolhe-se apenas a roupa do dia-a-dia. Sabe-se que tem roupas que não usa mais, porém as deixa ali a espera de um dia arrumar tudo de uma vez. É difícil esse tal do desapego. Gruda-se a tudo com a esperança de preencher faltas. Ficando com o resto, com o ultrapassado, com o que não cabe mais. Até chegar um dia que terá que jogar todas as roupas fora e fazer um novo figurino. É... ando precisando arrumar o armário.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

sábado, 27 de dezembro de 2008

PROMESSAS

Prometeu-me o mundo e nem o pó da estrada pôde me dar.
Prometeu-me o oceano e não me deu mais do que poças de lama após longas tempestades.
Prometeu-me o sol e não me deu se quer uma estrela pra meu mundo brilhar.
Prometeu-me todas as flores do mundo e nem ao menos um botão de rosa recebi.
E eu apenas pedi que me amasse.


-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Afetos Fragmentados


"Estou me criando. E andar na escuridão completa à procura de nós mesmos é o que fazemos. Dói. Mas é dor de parto: nasce uma coisa que é. É-se."

(Água Viva - Clarice Lispector)

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

ESCULTURAS DE GELO

Corpos frios e gelados é o que temos sido
Olhares frígidos sem expressão de afetos calorosos
Palavras de conveniência
Comentários inexpressivos
Morte em vida a dois
Uma espécie de contrato inquebrável
Nos parece impossível um adeus
Mesmo que a dor desse adeus seja menos danosa à que sentimos agora
Universo sem graça que criamos pra nós
O costume cristaliza corpos
Pára o mundo
Petrifica o tempo
Nos separar é como se nos quebrássemos em vários cacos
É morrer
Mata-se o que já está morto pra buscar vida
Reunir os cacos e buscar ressurgir
Reiventar-se buscando não o que se foi mas algo de novo
Entender que os cacos não precisam ser colocados nos mesmo lugares
Permitir buracos em busca de completude
Se dar novas formas
Se refazer
Se recriar

Num processo autopoiético

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-


sábado, 20 de dezembro de 2008

Devaneios Meus

Procuro palavras, mas elas não vêm. Não vem. Não vem. Pesco cada letra tentando encaixa-las num enredo certo, correto e preciso. Mas tudo tem parecido pequeno e não bastante enquadrável naquilo que quero expressar. Faltam palavras e argumentações. Tudo tem sido pouco e quase nada. Não quero ter que regular a voltagem das coisas ao que preciso. Quero que ou esteja pronto ou que eu possa reinventar uma nova voltagem para mim. O que não existe eu invente. Deixa eu ferver a 6000º. Quero expelir tudo do núcleo do meu ser. E virar se não lava de vulcão. Não. Não. Pra que estética? Pra que condensar sentimentos em palavras classificáveis esteriotipadas? Não me venha falar de modelos, regras e leis. Moral? Ah me poupe sobre esses subterfúgios de um mundinho reprimido e escroto que não consegue ser o que se quer e julga o outro. O que é a moral se não o espelho repressor de tudo aquilo que você queria ser e não tem coragem.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

SOBRE QUERERES

Não, eu não quero o certo, o correto, o previsto. Não, eu não quero a precisão do destino que protege, que abriga, que nos impede de experimentar. Não, eu não quero a mesma precisão do destino que condena, que pune, que fere. Se for pra me ferir e me machucar que seja por mim mesma. Quero sangrar até a ultima gota. Fazer exposição da minha carne viva. Quero chocar e estremecer. Mas que não seja dito que foi o meu destino e sim que foram minhas escolhas. Eu quero sentir vida em mim, sentir tudo estremecer e ferver. Quero ardência em cada parte do meu corpo e se for preciso me queimar, então que assim seja. Chega de sentar na janela do trem e ver a vida passar como se eu não tivesse nenhum tipo de controle sobre ela.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

sábado, 13 de dezembro de 2008

MULHER FERIDA

Pinga cada gota de sangue deixando rastros, passos e compassos. Ela que sangrava já nem sentia. Há dias a ferida aberta exposta, esperando talvez que alguém notasse. Ou não esperando nada apenas já não se sentia viva o bastante para cuidar dessa ferida. Devido ao seu estado de não-vida, já não podia sentir as fagulhas que dilasceravam seu corpo. Apenas estava sendo sem saber o que se era. Subindo os degraus da catedral parou diante do ultimo e entrou de joelhos. Dizia palavras e frases desconexas. Rogando por ajuda as preces eram sem nexo aos ouvintes de fora dela. Já não se lembrava das orações que havia aprendido quando criança então não ousou parafraseá-las, preferiu simplismente falar. Deixou que seu coração trouxesse as palavras do fundo de sua alma. Encharcada de lágrimas, sangue e desespero ficou ali a noite toda diante do pai, buscando lavar o resto sórdido de alma que ainda existia em si. Não buscava ajuda para um futuro, não buscava força para viver. Clamava apenas o perdão. No fim da madrugada, já amanhecendo ouvia-se os primeiros carros e ônibus nas ruas da metrópole. Levantou-se serena, a ferida já havia entrado no processo inflamatório, havia muito pus, estava bem inchada e ainda escorria sangue. Saiu da catedral e olhou a rua e os carros passando como flechas em sincronia. Poucas pessoas na rua, porém ninguém a olhava, era invisível a todos. Mesmo no seu estado de podridão, não tomava banho a dias o que fazia com que exalasse um odor desagradável. Ainda a olhar o movimento dos carros, foi andando calmamente em direção a rua e deixou que um deles a levasse em direção ao poste de um quarteirão depois da catedral. Era sua ultima tentativa de sentir a vida.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

NADA NÃO...

Eu só sei dizer
Quando nada quero dizer
Do nada tudo vem
E quando mais preciso dizer tudo
Me faltam palavras
O nada as rouba a hora que bem entende
Na verdade o nada vem do tudo
E o tudo não é nada
Ou será que é?
... Nada não deixa pra lá.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Afetos Fragmentados


"Sim, é claro
O universo é negro, sobretudo de noite.
Mas eu sou como toda a gente,
Não tenho eu dores de dentes nem calos, e as outras dores passam.
Com as outras dores fazem-se versos.
Com as que doem, irrita-se.
A constituição íntima da poesia
Ajuda muito...
(Como analgésico serve para as dores da alma, que são fracas...)"

(Álvaro de Campos)

sábado, 6 de dezembro de 2008

DESABAFO

Eu já cansei desses joguinhos de caça-palavras com suas charadas secretas que só você entende. Não quero méritos por acertos. Ganhar pontos como se estivesse numa competição. Cansei de ser a boazinha que passa a mão na tua cabeça e acata quando você se faz de desentendido e se diz vítima. Eu não sirvo pra certos jogos de sorte ou azar. Mostro minhas cartas de cara limpa. Não tenho medo de me mostrar. Foi-se o tempo que vivia cheia de disfarces e charminhos. Então me entenda bem meu bem, que eu não vou entrar nos seus jogos de novo. Se você quiser me convencer que tudo não passou de mais um estado alterado após sua embriaguez, fique sabendo que eu cansei. Cansei mesmo. Porque sou alguém que sempre te respeitou e não te pediu nada em troca a não ser isso. Eu tô ligando a porra do foda-se. Foda-se pra sua estupidez. Foda-se pra seus pedidos de desculpas depois. Foda-se se sou a mulher mais maravilhosa do mundo. Foda-se se eu te digo verdades e você converte a maneira que bem entende. Foda-se se quer continuar com essa merdinha de vida. Cansei de ficar me preocupando contigo e de poupar palavras duras. Eu simplismente estou farta do seu egocentrismo. Divirta-se com o seu umbigo.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

PRECE


Penso no espírito que transcende o nosso corpo físico, que é apenas matéria que vira pó de volta a terra que veio. Porque dar tanto valor ao externo passageiro se é nosso espírito que reinará após a carne apodrecer e ser comida por urubus? Eu creio no espírito. Eu creio no espírito como parte da matéria que aqui vos fala. Me toco e porque não, minha mão é meu espírito e até a unha de meu pé. E vivo para respeitar cada parte de meu corpo como se fosse meu próprio espírito, que na verdade o é. Quando tu me machucas é meu espírito que feres e deixa marcas. Muitas vezes socos em meu corpo não doem tanto quanto palavras que são atiradas feito flechas na alma. Percorrem-na rasgando e dilacerando o ultimo suspiro de vida em mim. Porque insistes em sulcar minha ultima gota de esperança? Eu deixo que tu vivas como queres. Deixe-me viver à minha maneira. Se não respeitas meu corpo, ao menos respeite minha alma. Não te peço nada além de libertar meu espírito do corpo que você prendeu. Eu preciso seguir.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-


terça-feira, 2 de dezembro de 2008

BURACOS

Há certos momentos que fico farta de companhia. Eu preciso estar só comigo mesma. As pessoas enjoam. Principalmente quando tudo se repete e elas sempre voltam com as mesmas carências cobrando de você carências que te faltam. Não entendem que a carência que nunca deu é a que nunca teve. Há momentos que minhas faltas me bastam e não dá pra destapar meus buracos para preencher os alheios.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

FERIDA ABERTA


Estanquei o sangue de cada ferida.
Cuidei e limpei de maneira que não inflamasse.
Mas ainda me é irresistível a idéia de arrancar a casquinha mais uma vez.


-=Þëqµëñä Þö놡zä=-


domingo, 30 de novembro de 2008

ALQUIMIA



Daquele tipo que te pega por trás e sem pedir licença te rouba sua essência e penetra em você. Ficam ali a brincar com suas línguas enrolando uma na outra. Ora eu em você. Ora você em mim. Ora nós dois em nós. Mordidas leves e brutais nos lábios, daquele tipo que te suga até o que te falta. Brigando de espadas com suas línguas úmidas de licor de menta. Fez arder. E já não se sabia se era por conta da menta ou se era o fogo que saia de seus corpos. Ou se foi a própria alquimia dessa mistura quente que os fez entrar em combustão. Toda a pista pegou fogo e só se viu chamas no lugar.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

PASSAGEIRA



O mundo anda tão preto e branco. Tudo pulsa. Tudo treme. Tudo se move. Mas é tudo tão automático. O mundo tem andado no piloto automático. Quem é esse piloto gente? Alguém já viu seu rosto? Já lhe deram bom dia? Ele é alguém em que se possa confiar o mundo? É a vida passa... E ultimamente anda passando cada vez mais depressa. Meu passado me vem em flashs e não consigo conceber o quanto a vida é fulgás. Quanto já fiz de mim sem que soubesse o que de mim fazia. Tem dias que sou puro impulso e emoção. Outros a razão me domina de tal forma que me impossibilita de me mover. Enquanto isso a vida passa. O mundo gira. E o lugar que deixo quando volto já não é o mesmo. Tenho medo do retorno e do quanto pode ser frustrante ver certas mudanças. É difícil partir. Mas ainda mais difícil é voltar. Nada volta como antes. A vida anda passando pra mim. As pessoas andam passando por mim. E eu sou aquela que nunca volta. Eu sempre fico.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Afetos Fragmentados

"Redondo sem início e sem fim, eu sou o ponto antes do zero e do ponto final. Do zero ao infinito vou caminhando sem parar. [...] Eu sempre fui e imediatamente já não era mais. [...] Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro."

(Um Sopro de Vida - Clarice Lispector)

domingo, 23 de novembro de 2008

PEDIDO AO TEMPO


Peço tempo ao tempo

Para fazer o que desejo
Mas nem em meus sonhos eles cabem
Meus desejos transbordam os ponteiros.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

sexta-feira, 21 de novembro de 2008


Parece que tenho perdido a dose, o freio, o medo, o silêncio. Num processo de sentir tudo no qual o que fica é só o vazio do nada sentir. Quando muito se tem nada quer. Eu não quero nada, pois estou farta de tudo... Tudo o que me cerca. Tudo me parece velho e desinteressante. Ando precisando do novo, do desconhecido, do frio na barriga, do contato em carne viva. Consegui me desvencilhar das amarras que me prendiam. Mas mesmo solta não quero a liberdade. Quero me prender em alguém. Quero que alguém se prenda a mim. Mas é tudo tão velho e desinteressante.


-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

PARTE DO TODO


Já não sei em qual abismo me deixei
É só corpo que levo
Só físico
Só matéria
É uma parte do todo


O mundo me reconhece como tal
Como todo
Mas eu não
Não me vejo
É apenas parte de mim que me move
A outra está morta
É estorvo
É encosto
É resto

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-



quarta-feira, 19 de novembro de 2008

NO ENCONTRO DA ESCRITA



Por que as vezes nos é tão difícil escrever? Me parece que as vezes os sentimentos não cabem em palavras e tentar definí-los é reduzi-los numa materialidade que não os cabe. É condensar a sensação num único valor, num só termo como se ele não pudesse ser vários. E no momento que o escrevemos apreendemos nele essa marca e ele deixa de poder ser qualquer outra coisa que pudesse vir a ser. As palavras tem peso. A escrita marca. O indizível quando dito parece que impossibilita o poder ser de outra maneira que não aquela. Não se pode voltar atrás. E quando se escreve se expõe. É impresso seu próprio eu ali nas palavras. Escrever é arriscar-se. Escrever é encontrar consigo mesmo. Registrar o que pensa e assinar em baixo. Eu quero escrever hoje uma coisa e amanhã escrever totalmente o contrário sem medo da culpa. Quero que tirem de mim o fantasma da escrita. chega de susurros eu quero gritar. Berrar para que todos ouçam meu grito. Vou escrever pura e simplesmente pro meu prazer. Escrever porque gosto. Escrever para o nada. Como agora que jogando palavras entrelaçadas no papel sem destino. Se por algum acaso elas chegarem até você, será por sua conta lê-las ou não. E nem tenho pretensão de agradar-te, fique pra você algo de bom ou ruim. Aquela que escreve já escancarou e chutou seus fantasmas. Só o ato de extravasar já me basta. Não quero reconhecimentos, nem pompas, nem festas. Eu quero despojar de mim mesma. É um exercício de tirar as máscaras e dar forma ao que não tem corpo. Dar nome ao que não tem nome. É na angústia que faço versos em busca de mim mesma. Escrevo pra me encontrar.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-


domingo, 16 de novembro de 2008

É que não vejo razão em certas coisas. E não vejo porque manifestar alguma reação. Espero paciente pela minha hora. Mas que seja feita a minha vontade.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-


sábado, 11 de outubro de 2008

OUTRO VOCÊ

Já perdi as contas de quantas bocas beijei para encontrar a sua. Me entreguei a vários amores sempre comparando ao nosso. Todo fim não me torturou tanto, pois nenhum foi igual ao que você deu a nossa história. Todos amores que tive terminaram no relâmpago da descoberta de que nenhum seria igual a você. Muitos beijos. Muitos abraços. Muitas carícias. Tudo isso em busca do seu toque, do seu beijo, do seu abraço. Uma busca em vão. Ninguém tinha o seu cheiro, nem chegava perto do seu tom de voz ao meu ouvido. Até descobrir que eu nunca gostei de você de verdade. Que nunca procurei você nos outros rapazes. Eu estava sempre em busca da idéia de alguém que não me quis por inteira. Estava em busca da forma desse alguém e era preciso que dessa vez ele me quisesse pra que esse “carma” fosse superado. E houveram muitos que foram como você. Houveram muitos melhores que você. Porém todos me quiseram. E no instante da confirmação do querer eu perdia a imagem de você nele. Tudo era desinteressante e eu ia em busca de um outro você.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

domingo, 28 de setembro de 2008

Constantemente me pego a pensar o que pensam os outros sobre mim.
Quem nunca quis saber a imagem que passa...
Algo mais do que apenas olhar no espelho toda manhã.
A gente precisa sempre de um algo mais
Seja pra acreditar mais em nós
Seja pra inflar ainda mais o nosso ego
Seja pra nos decepcionarmos diante da imagem vista pelos outros.
Às vezes não sei se passo a imagem certa
Às vezes não sei se tenho sido o que realmente quero ser
É um devir constante que ás vezes me soa falso (que me perdoe os “devirnianos”)
Sei lá sei lá
Eu queria ser mais, sem medo do exagero.
E às vezes até queria ser menos, sem medo da falta.
Queria ser eu sem condições
Sem objeções
Sem opiniões
Queria apenas ser eu sem comparações e parâmetros
O que mata é quando te vêem como reflexo de alguém
O que mata é quando te vêem imagem de alguém
Isso gera expectativas
Expectativas geram frustrações
Frustrar-se com algo autêntico
É impedi-lo de se expandir
É matar idéias
É matar a vivacidade da vida e das multiplicidades que ela gera
Eu quero ser eu sem condições
Quero expandir o ser que há em mim
Quero descobrir as possibilidades de ser
Então olhe pra mim e não veja nada
Olhe pra mim e anule idéias e conceitos
Olhe pra mim e me veja como um campo seco que floresceu e frutificou
E tente colher meus frutos como se fosse algo inexistente em qualquer outro campo da face da terra.
Saboreie-me.
Desfrute-me.
E se depois disso mesmo assim não aprovar
Apenas me permita alimentar outras pessoas.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

AFETO



Quando o afeto de alguém que você não espera te afeta.
Quando o afeto te afeta e manifesta um algo sem explicação.
Quando o afeto te afeta e te deixa sem uma direção
Quando o afeto te afeta e não te cabe, você transborda
Quando o afeto te afeta e você quer doá-lo a todos a sua volta
Quando você não espera ser afetado
Quando você não espera por afetos
Quando você não está aberto a afetações

Pois é foi nesse instante do quando que eu me encontrava
Meu presente me/se presentificou com afetos afetáveis
Afetaram a todos e não só a mim
E diante de tanto afeto me vem uma sensação muito boa
É tempo de sincronicidade.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-


domingo, 24 de agosto de 2008

Resolvi hoje escrever palavras ao vento. Escrever liberando medos, afetos, emoções. Ando precisando expurgar o mundo que não cabe em mim. Eu já não consigo mais caber em mim mesma. É muita coisa, muito sentimento preso fora do lugar. Quanto mais me conheço mais vejo o quanto não sei de mim e o quanto errei comigo mesma. Não sei como seguir pelo caminho certo, nem sei se há esse tal caminho certo. É tudo vago. Respiro e não reconheço o ar. Sinto falta de um alguém pra eu chamar de meu. Sinto falta de alguém pra caminhar comigo. Meus passos andam sós. Sempre foi difícil pra mim dizer sim a alguém. Estou sempre cheia de defesas, sempre a espera, sempre tão calma, sempre tão cheia de idealizações, sempre tão cheia de todos e sempre tão em falta de alguém.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

sábado, 23 de agosto de 2008

Afetos Fragmentados


"Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados."

(Livro do Desassossego – Fernando Pessoa)

domingo, 17 de agosto de 2008

MEU INTERIOR

Escrevo versos vagabundos com palavras fúteis e vãs pra expressar sentimentos esdrúxulos e vagos. Em cada sujeito que me reconheço parece máscara que me cai muito bem. Cai na primeira mentira que digo. Cada verbo que uso é só esperança de um dia tornar-se ação.
Minha vida anda cheia de pó de tão parada que está. E eu sem vontade de movimentar um móvel pra tirar poeira. Deixa tudo com teia que assim ninguém vem me visitar mesmo... Deixa tudo velho parado onde está que ninguém vai querer mexer ou se aproximar.
Engraçado, né?! E eu reclamando tanto da solidão e nem preparo a casa pra receber visitas... Quem sabe elas voltem mais vezes?!
Eu movimento meu exterior, mas a mim eu não engano... Por dentro anda tudo podre de tão parado de tão velho. Meu mundo é muito escroto que preciso dar cor e vida a ele por fora pra alguém querer falar comigo. Nem eu agüento o marasmo de minha vida. Crio mundos que só eu visitei. Crio histórias que só eu sei de cor. Passo a acreditar em realidades paralelas de tanto recontar e recriar pros outros. Eu tenho uma vida inventada. Assim fica mais fácil de lidar com o fato de não ter história alguma pra se contar. Fujo um pouco da minha realidade. E quem disse que isso é mentira... Se eu pensei, se eu sonhei, quem vai me dizer que não estive lá ou que não aconteceu de verdade? Quantos sonhos nos parece mais real do que nossa própria vida? E quem pode garantir que não foi real? O que é real de fato?
A nossa vida se baseia em nossas percepções e sensações. A gente vê o outro como quer e a si mesmo também. E tem momentos nos quais não dá pra separar o real do imaginário. Os mundos que eu crio eu vivi neles e deles só eu pra dizer o que foi real ou não.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

domingo, 10 de agosto de 2008

CONSTRUÇÃO


Tenho andado des-sentindo
Tenho andado des-pensando
Tenho andado des-fazendo
Tenho andado des-andando
Tenho andado tentando não andar no mesmo passo... no mesmo ritmo...
Buscando novas notas... novo compasso... nova melodia
Tenho andado buscando novas maneiras de andar
Tenho... tenho... não como obrigação
Não como algo imposto
Apenas venho buscando me permitir ser
Ser de todas as maneiras possíveis
E no meio disso tudo venho tentando firmar-me
Me auto afirmar perante os demais
Porém me dando a oportunidade de não ser um ser congelado e frio
Um ser que não se permite modelar com os choques da vida
Estou aqui pra ser quebrada e colar os cacos
Quem sabe algo novo e bom vem aí?
Cansei de esconder as feridas
Cansei de sempre estar com tinta fresca e cheia de não me toques
Cansei das constantes reformas mantendo os outros distantes
Entre aí
Venha ver a nova construção
Pode ser que demore a ficar pronta
Pode ser que nem chegue a ficar pronta
Mas se quiser pode fazer parte dela
Coloque seu tijolo também
Cansei de viver rodeada de arame farpado.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

QUANDO ACABA


Onde foi que você deixou seu brilho?
Onde foi que ficaram tuas palavras doces?
Cadê aquele teu sorriso sem graça?
Cadê aquele homem por quem eu me apaixonei?

Pra onde foram as juras de amor?
Pra onde foram promessas de um futuro juntos?
Cadê aquele sussurro bom no meu ouvido?
Cadê aquele abraço que me sufoca de prazer?

Onde foi que meu entusiasmo por você se perdeu?
Onde foi que ficaram minhas conversas em tons de romance?
Cadê o brilho nos meus olhos?
Cadê a mulher por quem eu fiz você se apaixonar?

Pra onde foram minhas saudades de você depois de um dia longe um do outro?
Pra onde foram minhas vontades de fazer algo por você?
Cadê minha mão segurando a tua?
Cadê meu corpo procurando o teu?

Eu não tenho respostas pras mudanças que a vida traz
Você não tem respostas pras escolhas que você fez
Eu já não sei o que sinto por você
Você já não sabe o que sente por mim
Eu não quero me sentir obrigada a lhe doar sentimentos
Você não quer obrigar-se por mim
O nosso amor se transformou em obrigação de favores
E desde quando amor se faz favor e obrigação?
Façamos favores individuais então
Reconheçamos que acabou
Sem muitas cerimônias
Amei! Foi bom! Adeus!

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Afetos Fragmentados


"É meu este poema ou é de outra?
Sou eu esta mulher que anda comigo
E renova a minha fala e ao meu ouvido
Se não fala de AMOR, logo se cala?
Sou eu que a mim mesma me persigo
Ou é a MULHER e a ROSA escondidas
(Para que seja eterno o meu castigo)
Lançam vozes na noite tão ouvidas?
Não sei.
De quase tudo não sei nada.
O anjo que impulsiona o meu poema
Não sabe da minha vida descuidada.
A mulher não sou eu. E perturbada
A rosa em seu destino, eu a persigo
Em direção aos reinos que inventei."

(Hilda Hilst)

domingo, 3 de agosto de 2008


Eu gosto do avesso
Eu gosto do quebrado
Eu gosto é de confusão

Eu gosto do amargo
Eu gosto do errado
Eu gosto é de explosão

Eu gosto do impróprio
Eu gosto do insano
Eu gosto é de rebelião

Eu gosto do incerto
Eu gosto do perverso
Eu gosto é de provocação

Eu gosto do antigo
Eu gosto do punido
Eu gosto é de inadequação

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

quinta-feira, 31 de julho de 2008

VEM FAZER PARTE DO MEU MUNDO NU


Tira essa camisa
Tira sua bermuda
Tira tudo e deita aqui
Você não precisa de vestes pra estar comigo
Não quero tua roupa
Não quero aquilo que te cobre e me impede de te ver
Dispa-se
Desvista-se
E fica comigo
Vem fazer parte do meu mundo nu
Vem ser você e nada mais
E eu me mostro a ti por inteira
Mostro o que tenho de melhor e mais perverso
Vem que prometo te fazer feliz
Sem vestes, sem panos, sem máscaras...
Deixe-se levar ao menos uma vez
Porque eu quero ficar nua
Eu quero estar nua
Pra você

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

terça-feira, 29 de julho de 2008

Porque eu mudo... Não me firmo em nada


Eu peco na intensidade e na falta
Eu peco no extravasar-me
Eu peco no mistério
Peco no querer ser-me sem objeções
Peco no resguarda-me receosa por condenações
Peco
Sou pecadora
E não há como agradar aos demais
E nem a mim tenho conseguido agradar
Me arrependo de cada coisa
Mesmo que na hora o ato tenha sido por vontade
No instante seguinte minhas vontades mudam
Eu não me firmo em nada
Não me firmo nem em sentimentos
As palavras se esvaem
As vontades ecoam como passado a partir da palavra proferida
É tudo pretérito
Tudo passa
O que fica é o que devia ter sido
Mesmo assim sei que se o oposto tivesse sido feito
Do oposto também me arrependeria
Porque eu mudo
Porque não tenho raízes em lugar algum
Porque as afirmações me deixam extasiadas
Não quero o sempre
Não quero o certo
Ou talvez a própria negação deles já seja um querer deles em si
Pois é...
A verdade é que eu não sei
É bem provável que ao terminar de escrever
Ache tudo o que escrevi besteira
E não condirá com meus sentimentos pós-escrita
É porque eu mudo
Eu não me firmo em nada

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

sábado, 26 de julho de 2008

Afetos Fragmentados

"A razão é como uma equação de matemática...
Tira a prática de sermos... um pouco mais de nós!"

(A fé solúvel - Fernando Anitelli)

quinta-feira, 24 de julho de 2008


Nessas tuas brincadeiras de dizer verdades
Esquece-te que posso acreditar no tom da brincadeira
Esquece-te que posso inverter sentimentos
Converter propósitos
Desvirtuar caminhos
E ao invés de brincar...
Porque não me pega de jeito e me tira o ar?
Me sufoca com teus beijos
Me envolve em teus abraços
E chega de se esconder em palavras de graça
Por que eu posso não querer-te mais.


-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

terça-feira, 22 de julho de 2008


É nessas horas em que nada vem ao meu alcance
Nessas horas que nada sai como planejado
Eu fico a me perguntar, porque será que vim ao mundo?
Quais meus planos? Caminhos? Destino?
E será que existe algo certo pra mim?
Será que existe essa coisa de destino?
Será que nossas vidas já estão traçadas ao nascermos?
Será que eu sou o que sou e sempre serei?
É que o mutável nessas horas me parece tão inaceitável
E mais inaceitável ainda é imaginar que as coisas são sempre como são
Tenho vivido na mesma constância de sentimentos
E quando pareço mudar de direção, algo no meu ouvido vem e me diz...
Volta pro teu caminho... O que estás a fazer aí?
E mais uma vez sigo a mesma estrada
Uma estrada cheia de entradas e saídas
E eu sempre retilínea
Sempre na mesma rota
Eu queria deixar-me
Me perder de mim mesma
E talvez assim sentir que o que eu estou sendo é na verdade apenas um estado de espírito
Eu apenas estava sendo algo dentro das infinitas possibilidades do que posso ser
E que as pessoas não “são”
Elas “estão”
Acabaria talvez percebendo que a vida não é algo estático
Que nós não somos objetivos
É tudo tão dinâmico
Tudo tão intenso
E as retas da vida nos impedem de rodopiar por aí
Eu queria ao menos uma vez andar sem saber aonde vai dar e não me sentir mal por isso
Por saber que no fundo eu estou indo aonde eu quero realmente ir.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-


quinta-feira, 17 de julho de 2008

AZEDUME


Estou com uma certa ânsia de vômito
Provocada pelas palavras que derramei em versos
A cada palavra me sobe de forma desagradável aquela sensação ruim
E fica apenas aquele gosto azedo na garganta
Mas eu não paro
Não me canso
Vou continuar a fazer de cada sensação um verso
Uma prosa
Um poema
Quem sabe cantar também
“Quem canta seus males espanta”
É preciso vomitar verdades
E ás vezes é preciso provocar o vômito porque ele fica preso
Há os que preferem um antiácido
Há os que preferem um chá de boldo
Eu prefiro a escrita...
E é tanta coisa que prendo em mim
Que quando solto vem tudo de vez
E fica só o gostinho azedo na garganta.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

terça-feira, 15 de julho de 2008

QUEIMAR

Me aquece por dentro
Coloca tua língua em mim
Me deixa em ebulição
Se derrama que eu me entrego a você
Mergulha no meu corpo
Vem com chamas que viro brasa
Eu quero é queimar
Porque tudo anda tão frio
Tão gelo
Tão branco
Tão nada
Eu quero tua boca na minha
Tua língua enrroscando com a minha
Quero você inteiro entrando em mim
E gozar a noite inteira
Porque hoje eu quero é queimar

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

sábado, 12 de julho de 2008

MENINO


Menino, não me olha assim cheio de graça
Que o meu olhar embaça
E faço pirraça por um beijo seu

Menino, esse brilho em teus olhos
Me tira os propósitos
De ser uma boa menina daquelas que é pra se casar

Menino, se soubesses quanto eu gosto
Quando me enrosco
Em teu corpo e me faz queimar

Menino, deixa eu ser tua garota
Deixa eu ser tua fera, tua mulher, tua ninfeta
Deixa eu ser a própria praga em tua vida

Menino, me diz que quer ser só meu
Que farei parte do mundo teu
E a ninguém mais prometo amar

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

quinta-feira, 10 de julho de 2008



Você me fode com os olhos
Me fode com seus atos
Me fode com suas palavras
E eu já nem sei de onde tiro forças pra gozar

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

segunda-feira, 7 de julho de 2008

ANÁLISE DO MEU PRAZER


Ando rindo de mim, rindo de minhas atitudes e do meu agir.
Acho engraçado a minha maneira de viver e de como dou conta dos meus prazeres e desprazeres.
Ultimamente tenho tido um intenso desejo de companhia. Uma extrema carência do outro. Mas o que me espanta é a minha forma de escolha. Não pode ser um outro qualquer, me parece que há uma obrigação de ser o outro que pouca atenção me dá. Tenho necessidade de ser vista pelo outro e se esse me retribui de maneira adequada ou mais do que esperava, tua companhia deixa de me ser prazer.
Eu não sei me doar a quem muito me dá.
Eu não sei não gostar de quem pouco se oferece.
É o prazer no desprazer.
É uma espécie de prazer masoquista que segue um ciclo e a cada um que se completa outro se forma. É uma busca interminável por um objeto platônico e quando ele o deixa de ser perde o encanto.
Não me canso de buscar o inalcançável, como uma paixão incontrolável pela lua como se fosse possível obtê-la.
Eu gozo no desgosto.
É a impossibilidade que me tira o fôlego.
É quando algo parece que não dá que eu corro atrás, que busco.
Quando tudo me parece dado, entregue, o prazer da conquista termina.
Como num sonho de uma histérica, no qual a mulher se encontra no melhor restaurante, com a melhor companhia, ouvindo a melhor música, comendo a melhor comida e nem assim ela está satisfeita.
É talvez eu seja insaciável.
E isso não melhora minha perspectiva e nem diminui meu riso.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

sábado, 5 de julho de 2008


Sinto como se estivesse vivendo pra dentro
O que sinto é algo tão particular
Pouco externalizo aquilo que passo... que penso
Deixo tudo por dizer
Deixo as coisas passarem e acontecerem como quiser
Fica tudo pelo dito do não dito
Entenda o que quiser
Tudo muito abstrato
Tudo muito no ar
Falta um pouco de concreto na minha vida
Colocar tijolo por tijolo encimentar no meio e colar
Está faltando construir coisas
Anda tudo muito parado
Idéias soltas
Coisas vagas
Uma construção às moscas
Tem muito estrume em mim
Ando precisando fertilizar.
-=Þëqµëñä Þö놡zä=-