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quarta-feira, 27 de abril de 2011

DE POROSIDADE


Ela deixava o tempo acalmar todas as revoluções. Vivia sem rotinas, sem regras e sem normas. Era mais fácil. Acordava sem pressa de compromissos a espreita. Preenchia seus dias de nada com coisa alguma. Não soube ocupar bem sua liberdade nas escolhas. Desmanchou-se sem conseguir criar limites pra si. Foi escorrendo pela estrada arrastando-se e mesmo com tantos pés seu caminhar era lento que quase não podíamos dizer que saia do lugar. Estava era jogada. Pelos caminhos viam-se pedaços dela esquecidos. Ela ia deixando pra trás dizendo um dia voltar pra buscar, mas a dificuldade de conseguir seguir a fazia não pensar em voltar. E as tantas mãos que possuía podiam agarrar o mundo, no entanto levava apenas o vento. Agarrada a nada e desmanchando-se pelo caminho procurava por gravetos pra fazer muros de si. Impor alguns limites a ela tão essenciais naquele momento. Talvez se impor algumas rotinas diárias aparentemente duras, cruéis e frias. Mas é que muito calor, sol, verão? Tudo muito líquido, mar, onda? Resta só pedaço e um em cada canto. Sentindo falta do concreto foi poetizar sobre ele. Que até beleza tinha. Mas pode deixar que o concreto dela é apenas aquela casca crocante de empanados que facilmente se quebra. Porque com aquela moça nada é tão permanente assim. Seu mundo é poroso que só.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

DE ADIAMENTOS




Talvez eu seja, enfim, uma romântica em perdição. Deixando-se agarrar pelo ultimo fio que a mantém esperançosa por dias quentes. Mas aguarda friamente com a navalha na mão. Mas como tudo em sua vida, hesita o corte para o amanhã e vive a se equilibrar.

Versos Fragmentados


"Ele não sabe mais nada sobre mim. Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos. Ele não sabe quantos livros pude ler em algumas semanas. Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos. Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa. Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre. Ele não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de me sentir sozinha. Ele não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: ele nem imagina que foi ele quem me ensinou esta alegria."

(Marla de Queiroz)

terça-feira, 5 de abril de 2011

JÁ NÃO TENHO FORMA





E todo o tempo de paz que eu pedi

E todo o tempo de paz que fui atrás

E todo tempo de paz que vivi

Nada disso fez preencher esse vazio

Essa coisa nenhuma coisa qualquer que tem me tomado o corpo.


sábado, 2 de abril de 2011

APRENDENDO DE DEFESAS



Engraçado! É só a gente aprender a se defender e não mais que de repente vira o vilão da história.




“Acontece que descargas, não quero parecer alarmista, às vezes entopem.

E devolvem justamente aquilo que deveriam levar embora.”

(Caio Fernando Abreu)