
Ela deixava o tempo acalmar todas as revoluções. Vivia sem rotinas, sem regras e sem normas. Era mais fácil. Acordava sem pressa de compromissos a espreita. Preenchia seus dias de nada com coisa alguma. Não soube ocupar bem sua liberdade nas escolhas. Desmanchou-se sem conseguir criar limites pra si. Foi escorrendo pela estrada arrastando-se e mesmo com tantos pés seu caminhar era lento que quase não podíamos dizer que saia do lugar. Estava era jogada. Pelos caminhos viam-se pedaços dela esquecidos. Ela ia deixando pra trás dizendo um dia voltar pra buscar, mas a dificuldade de conseguir seguir a fazia não pensar em voltar. E as tantas mãos que possuía podiam agarrar o mundo, no entanto levava apenas o vento. Agarrada a nada e desmanchando-se pelo caminho procurava por gravetos pra fazer muros de si. Impor alguns limites a ela tão essenciais naquele momento. Talvez se impor algumas rotinas diárias aparentemente duras, cruéis e frias. Mas é que muito calor, sol, verão? Tudo muito líquido, mar, onda? Resta só pedaço e um em cada canto. Sentindo falta do concreto foi poetizar sobre ele. Que até beleza tinha. Mas pode deixar que o concreto dela é apenas aquela casca crocante de empanados que facilmente se quebra. Porque com aquela moça nada é tão permanente assim. Seu mundo é poroso que só.