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segunda-feira, 15 de junho de 2009

DE QUANDO ME CALO [3]


Tenho preferido não pensar. Não me deixar correr o risco de escorregar nas palavras que vivem a espreita. Sensação estranha essa de ter consciência de viver controlando cada artigo, substantivo, adjetivo, verbo. Procurando o sinônimo menos doloroso pra compor cada frase. Como se fosse capaz de ter o controle de não ferir. As farpas insistentemente escapam de mim. O risco que se corre de se expor tem um preço alto. E se esconder talvez possa causar uma dívida maior ainda do que pagar a prestações suaves. Os juros levam a um montante que explode e arromba. Devasta. Tentando proteger acabamos por causar estragos ainda maiores. Tentando nos esconder acabamos por nos derrapar em nós mesmos. Seres desconhecidos e estranhos. Mas tão nós como nós mesmos. E todo esse discurso é pra dizer que hoje não sei falar de mim. Até sei, mas algo não me deixa escapar. Permaneço assim misteriosa. Dos escritos saem versos que não são nada daquilo que pretendia expor. Pensei que talvez conseguisse extravasar meus pensamentos soltos. Concretizá-los aqui. Mas não. Hoje não. E nem me permitirei frustrar por isso. Me darei o direito de não o fazer. Mas tenho pressa. E toda a calma que demonstro aqui pode passar após o ponto final. Ao menos nesse momento o que escrevo foi fonte tranqüilizadora pros fantasmas que não consigo nomear.

2 comentários:

Lucas Lima disse...

Precisamos descobrir o prazer de não ter controle certas vezes, rs, e descobrir o controle de ter prazer sempre, rs
Bjs e boa semana.

Carlos Junior disse...

Tô impressionado. Vc domina a arte de escrever! rs