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segunda-feira, 1 de junho de 2009

SOBRE A IMPORTÂNCIA DA FALA

Eu tenho falado muito sobre mim ultimamente. Estranho, pois em dois meses falei mais sobre mim do que o resto da minha vida inteira. Sempre mantive gritos mudos e sussurros ensurdecedores. Respeitei cada frio na minha espinha e segurei cada nó entalado na garganta. Não me permiti sentir a não ser em cenas de novelas e filmes, até músicas me faziam chorar, era minha maneira de demonstrar ao mundo e a mim mesma que eu não tinha um coração de pedra nem tão pouco era insensível as coisas do mundo. Pelo contrário tudo me afetou de tal forma e eu sempre com esse contrato de eterna guardiã. Não soube fazer outra coisa a não ser me guardar e o lacre tão resistente não permitiu que eu me abrisse nem pra mim mesma. Nem a mim eu pude me revelar. Então permaneci assim com uma parte obscura de vestígios de uma pessoa que não pôde agregar a si pedaços seus que se perderam. E sempre me senti em falta. Sem lugar. Sem espaço. Sem vez. Nunca nada bom o bastante. Eu só queria um momento pra falar pra me dar lugar. Mas apenas me permitiam ouvir. E eu ouvi. Ouvia calada e atenta a tudo. Expressava alguns gestos e feições momentâneas que no momento seguinte eu havia de desmentir. Estava tudo bem e o mundo é cor de rosa. Mas o meu mundo sempre foi negro a cor da obscuridade de não poder ser. Eu não podia falar. Desde então construí espaços vazios e relações no nada. Eu não podia falar, compartilhar sobre mim. E as relações se fazem disso, de compartilhar. A única coisa que podia compartilhar era minha escuta e sempre soube ser boa ouvinte. Ouvir sempre foi o melhor que fiz. E falar sobre aquilo como se fosse alheio a mim. Mas me envolver, falar sobre mim, me expor... Jamais. Havia um contrato que eu não podia quebrar. Então sempre tive relações passageiras, pois quando queriam mais de mim eu não podia dar. Havia um certo limite intrasponível, que nem eu tinha ultrapassado, não poderia permitir que outra pessoa o fizesse. Mas hoje tenho escancarado minhas portas e janelas. Sem trancas me vejo falando nas conversas mais despretensiosas. Parece que sai meio que sem eu sentir. Das minhas coisas que ficavam guardadas e socadas a vácuo em mim hoje saem transbordando e já não me cabem e compartilho e divido. E quanto mais falo vejo o quanto essas coisas não são só minhas e o que achei que fosse tão particular tenho visto semelhanças naqueles com quem as confidencio. E nas trocas do que sinto com o que o outro sente pude entender a beleza de se compartilhar. E hoje não quero nada só pra mim. E não que tenha a intenção de despejar minhas coisas sobre os outros. Mas ao menos aqueles que vierem até a mim eu não as negarei. Estou com a casa aberta para visitas.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

4 comentários:

Boca grande disse...

A necessidade de dizer não perdoa aqueles que a ignoram...

Já deu pra sentir o efeito Lispector na sua escrita =]

Lucas Lima disse...

com certeza, nosso maior limite a questionar, é o que fica dentro de nossa pele, rs,
Mas ao mesmo tempo sempre digo que questionar a tudo é tão legal, e questionar a nós mesmo, traduzo como EVOLUIR, rs
Boa semana

Su disse...

Sim, aquilo que transmitimos, seja na fala ou de outra forma... é nosso! E que bom que está aberta pra vida!
Bjosss!!!

Darlan disse...

Estou boquiaberto como esse é um texto que eu não mudaria uma vírgula se fosse pra falar de mim. ainda estranho, às vezes, com a tamanha identificação que tenho com certos textos seus. Lindo texto! Beijos!