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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Versos Fragmentados


"Em alguns momentos fica o equilíbrio terrível de nunca ir. Fica a dor terrível de todo mundo que foi. Fica a ansiedade terrível de todo mundo que tem pra chegar. Mas nenhum desses silêncios chega perto do som que é viver ouvindo o mundo se locomovendo enquanto só tento enxergar de olhos bem abertos sem me mexer. Estar no centro do barulho nunca foi realmente uma solidão. A troca é tão bonita porque sorrio achando todos tão corajosos. E eles sorriem de volta, me achando corajosa também em ficar. Acho tão bonita a sensação de estar no único lugar onde se pode estar com todos. Sei que não escolho nada, não sigo com ninguém, não conheço outras idades e lugares e gastrites e ventos. Eu sou uma estação, é isso. Assim não dói além porque eu sei, desde o começo, que sou passagem. E é sempre movimentado, mesmo quando apagam as luzes e a vida dos outros descansam da minha parada. Existe o movimento que fica atrasado no ar e durmo embalada por tanta coisa que quase parece coragem. Até que hoje, não sei se porque enjoei dessa casa da infância, não sei se porque às vezes o amor é mesmo mais forte que mil anos de segurança. Eu pisei tremendo na escada e, pela primeira vez, ninguém tentou me agarrar porque era como se o mundo dissesse “acho que são onze da manhã e uma hora você precisa ser mulher”. E eu pedi socorro. Eu não sei sair daqui mas quero ir com você. Eu tenho cinco anos de idade mas quero ir com você. Tudo me dói tanto e eu tenho tanto medo mas tudo bem, vamos lá. Na próxima parada só me lembra que é bom eu fazer xixi e comer alguma coisa porque tô te achando tão bonito que talvez eu esqueça."

(Tati Bernardi)

Um comentário:

Celso Andrade disse...

Esse ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo exige que prestemos alguma atenção à natureza.