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quarta-feira, 27 de abril de 2011

DE POROSIDADE


Ela deixava o tempo acalmar todas as revoluções. Vivia sem rotinas, sem regras e sem normas. Era mais fácil. Acordava sem pressa de compromissos a espreita. Preenchia seus dias de nada com coisa alguma. Não soube ocupar bem sua liberdade nas escolhas. Desmanchou-se sem conseguir criar limites pra si. Foi escorrendo pela estrada arrastando-se e mesmo com tantos pés seu caminhar era lento que quase não podíamos dizer que saia do lugar. Estava era jogada. Pelos caminhos viam-se pedaços dela esquecidos. Ela ia deixando pra trás dizendo um dia voltar pra buscar, mas a dificuldade de conseguir seguir a fazia não pensar em voltar. E as tantas mãos que possuía podiam agarrar o mundo, no entanto levava apenas o vento. Agarrada a nada e desmanchando-se pelo caminho procurava por gravetos pra fazer muros de si. Impor alguns limites a ela tão essenciais naquele momento. Talvez se impor algumas rotinas diárias aparentemente duras, cruéis e frias. Mas é que muito calor, sol, verão? Tudo muito líquido, mar, onda? Resta só pedaço e um em cada canto. Sentindo falta do concreto foi poetizar sobre ele. Que até beleza tinha. Mas pode deixar que o concreto dela é apenas aquela casca crocante de empanados que facilmente se quebra. Porque com aquela moça nada é tão permanente assim. Seu mundo é poroso que só.

4 comentários:

LARISSA MIRANDA disse...

Ai, me vi um pouco aí, deixando pedaços de mim para depois retornar, e nunca retornei. Mas ainda há tempo, creio assim.
Beijão!

Guilherme Navarro disse...

Confesso que tenho um pouco de raiva de gente assim. Talvez por querer ser assim e não conseguir.

Bom blog!

Mell Renault disse...

Moça!! Por que você sumiu tanto???

Aqui continuo morrendo aos poucos quando leio!

Encanta-me seus encantos com as palavras!

Apareça!
Um carinho meu,
Mell

D. Q. M. disse...

Nossa existência é uma bela poesia em decomposição. E você soube traduzir um pedaço de sua própria 'impermanência'.
Beijos.