Páginas

terça-feira, 4 de agosto de 2009

QUANDO ESCOLHI A DOR DA FALA


Andei me sentindo empazinada esses dias. Não sei ao certo como contextualizar isso ao meu momento, mas vamos lá. Sinto que descobri muito de mim em quatro meses de análise e num conflito interno cheguei a uma breve e tortuosa conclusão de que era hora de dar um tempo. Pensei que já não conseguia ir mais além do ponto que cheguei e escavar ainda mais e encontrar mais destroços é algo que não sei se poderia suportar. Fui completamente decidida a não dar um ponto final, mas colocar uma ampulheta de tempo. Dar um tempo pra tentar resolver esses bueiros destapados que tem dado a viver jogando merda pra cima e espirrando em tudo que eu faço. Antes só o fedô incomodava, mas agora a sujeira resolveu se mostrar de vez e por mais que eu limpe ela sempre retorna. Porque eu só limpo o lado de fora, mas a faxina tem que ser feita lá dentro sugando tudo o que não presta. Todo o entulho estragado. Toda a podridão de anos e anos que tudo permaneceu muito bem tapadinho e escondido.
Talvez aí tenha chegado no ponto do início da conversa, sobre estar empazinada. Talvez possa parecer contraditório, mas por mais que eu esvazie as coisas de mim mais me sinto cheia. Como se ao falar fosse me dando conta da real dimensão do banquete que tive. E que as coisas que falo na verdade só são aquele bolo de comida da superfície, mas que ainda tem muita coisa por vir. É só o primeiro engasgo.
Eu tentei convencer a mim mesma. Não consegui. Achei que se eu conseguisse convencer a minha analista do tempo que eu achava que queria eu poderia convencer a mim mesma. Batalha inútil que travei. Perdi com ela e comigo ao mesmo tempo. Duas derrotas num dia. Fico fugindo das dores como se fosse capaz de evitá-las. Como se me calar não causasse dor. Eu precisei hoje decidir com qual dor quero ficar. Precisei hoje escolher qual a dor quero que faça parte de mim. E hoje eu ainda fiquei com a fala. Não sei até quando o limite de suportar vai me permitir. Mas hoje, apenas hoje vou continuar dando espaço pra minha fala. Mesmo que ela não seja do jeito que eu queria que ela fosse. Mesmo que eu ainda sinta falta de um pouco mais de verdade e intensidade em mim. Ainda assim, vale mais a pena que me calar.

3 comentários:

Lucas Lima disse...

o silêncio realmente, e em muitas vezes, fala mais que tudo, rsrs.
Boa sorte na empreitada com os bueiros, muito boa analogia, rs
Bons Dias

Su disse...

esses conflitos internos são assustadores e doem... mas ele surgem para que encontremos a nós mesmos... e o crescimento é algo que não tem preço, é gratificamente...
fugir das dores só fazem com que eles aumentem... e fale,fale sempre... sinta, sinta sempre...

Bjosss!!!

clarice ge disse...

quando algo nos faz mal o remédio é vomitar... guardar dentro de sí estraga...
"isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além" (leminski)
beijos PP