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domingo, 3 de outubro de 2010

Versos Fragmentados



"Em casa, lia a maior parte do tempo; tentava assim extinguir sob impressões exteriores o que fervilhava constantemente em mim. As únicas impressões exteriores de que dispunha me vinham da leitura. Elas eram para mim um grande conforto, naturalmente: comoviam-me, distraiam-me, atormentavam-me; porém um momento chegava em que ficava muito fatigado. Sentia necessidade de agir: então, de repente, mergulhava na libertinagem, numa sórdida libertinagenzinha hipócrita, subterrânea. Minha irritação contínua tornava minhas paixões ardentes,lancinantes. Meus impulsos apaixonados terminavam em crises de nervos, com lágrimas e convulsões. Fora da leitura eu não tinha nenhuma distração. Nada em torno de mim que pudesse me impor um certo respeito e me atrair para si. Uma angustia vaga me submergia; eu experimentava uma sede histérica de contrastes, de oposições, e então me lançava na devassidão."


(A Propósito da Neve Fundida - Fiodor Dostoiévski)

5 comentários:

Unknown disse...

Infelizmente,não se vive apenas no mundo dos livros, da imagnação.
Mas, ainda bem que temos esse refúgio para ficar por algumas horas =)

Andreia disse...

Já tenho saudades de me embrenhar assim nas palavras. *

Su disse...

E como é incrível o mundo da leitura!

bjos!

LARISSA MIRANDA disse...

"Fora da leitura eu não tinha nenhuma distração. Nada em torno de mim que pudesse me impor um certo respeito e me atrair para si."
Me vi nessa parte. Me vejo nas coisas que tu posta aqui. Beijo grande!

Darlan disse...

Eu ri de "libertinagenzinha". Texto forte, mais grave do que aparenta.

Adorei a imagem a ilustrá-lo.
Beijos ;*