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quinta-feira, 14 de maio de 2009

DO QUE AINDA NÃO SEI [4]

Hoje descobri uma pequena parte daquilo que eu sabia que não sabia. Mesmo pequena não deixa de ser menos importante. Pelo contrário. Diante de tudo que não sei, esse saber é uma luz que bate direto em meu olhar e me clareia e mesmo com toda intensidade que ela se deposita em mim tento fazer com que minha visão não fique turva a ponto de nada ver. Permaneço com o olhar fixo. Mas sinto-me estranha. Aumentou mais aquele sentimento de não pertencimento. Eu não me pertenço. Não me reconheço. Vejo que tudo o que fui, foi ser alguém buscando não ser um outro alguém. Eu não sei se eu realmente não queria ser esse outro. Mas procurei me diferenciar. Me reafirmar na diferença. Precisei do oposto. Do contraste. Do choque. E sempre que esse contraste me era colocado eu me reafirmava nele. Há até uma espécie de gozo nessa comparação talvez. E me sinto estranha ao falar sobre. Me sinto confusa e quase chego a não aceitar em admitir, mas é algo dito e inegável que tenho prazer na diferença imposta pela comparação. É nesse momento que me reafirmo como tal. Como eu. Como aquela que é. Mesmo que nessa diferença tenha errado a medida, desvirtuado caminhos, e perdido a rota certa a seguir. Meu incômodo definitivamente não é na diferença, porque é justamente ela que quero reafirmar, contudo não sei buscar a diferença além daquela que me transformei. E pensar em outra possibilidade agora me confunde. Porque mesmo no diferente, algumas coisas fui tentando ser semelhante, mas errei a medida mais uma vez e não sei até onde me cabia. Mais uma vez percebo que eu não dei conta das medidas. Sempre caminhos que foram muito ou não o bastante. Eu não sei a medida de mim. E se falei que não saber o que não se sabe dói mais do que não saber. Hoje digo que saber o que não se sabia é alívio e carrega consigo um certo prazer. Mas o próprio saber carrega também uma angústia no momento em que se dá conta de mesmo com esse “sabido” ainda há coisas que não se sabem por completo. Eu não sei o que fazer com esse “sabido”. E isso definitivamente é algo que hoje me dói mais do que não saber o que não sei.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

3 comentários:

Vinny disse...

Eu já te falei que seus textos tem uma semelhança divina com textos de Clarice Lispector? Aliás, você gosta dos textos dela né? Hehehe.

Muito bom. Beijão, bom fim de semana.

Kuriozza disse...

Uma confusão na minha mente que leu, imagine na sua que criou.

Bjs!

Líviarbítrio. disse...

Concordo com o Vinny.
Toda a essência da Clarice está nesse texto. Muito bom.

;)