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sábado, 13 de dezembro de 2008

MULHER FERIDA

Pinga cada gota de sangue deixando rastros, passos e compassos. Ela que sangrava já nem sentia. Há dias a ferida aberta exposta, esperando talvez que alguém notasse. Ou não esperando nada apenas já não se sentia viva o bastante para cuidar dessa ferida. Devido ao seu estado de não-vida, já não podia sentir as fagulhas que dilasceravam seu corpo. Apenas estava sendo sem saber o que se era. Subindo os degraus da catedral parou diante do ultimo e entrou de joelhos. Dizia palavras e frases desconexas. Rogando por ajuda as preces eram sem nexo aos ouvintes de fora dela. Já não se lembrava das orações que havia aprendido quando criança então não ousou parafraseá-las, preferiu simplismente falar. Deixou que seu coração trouxesse as palavras do fundo de sua alma. Encharcada de lágrimas, sangue e desespero ficou ali a noite toda diante do pai, buscando lavar o resto sórdido de alma que ainda existia em si. Não buscava ajuda para um futuro, não buscava força para viver. Clamava apenas o perdão. No fim da madrugada, já amanhecendo ouvia-se os primeiros carros e ônibus nas ruas da metrópole. Levantou-se serena, a ferida já havia entrado no processo inflamatório, havia muito pus, estava bem inchada e ainda escorria sangue. Saiu da catedral e olhou a rua e os carros passando como flechas em sincronia. Poucas pessoas na rua, porém ninguém a olhava, era invisível a todos. Mesmo no seu estado de podridão, não tomava banho a dias o que fazia com que exalasse um odor desagradável. Ainda a olhar o movimento dos carros, foi andando calmamente em direção a rua e deixou que um deles a levasse em direção ao poste de um quarteirão depois da catedral. Era sua ultima tentativa de sentir a vida.

-=Þëqµëñä Þö놡zä=-

2 comentários:

Ígor Andrade disse...

Forte, bem forte, o texto!
Abraço!

Wenndell Amaral disse...

Adicionei você no blog. Tudo bem para você?